sábado, 8 de janeiro de 2011

The devil is so lovely.


Odeio essa merda de escola, esses merdas de “amigos”, essas merdas de matérias. Ninguém sabe, ninguém valoriza e ninguém percebe que eu sei tudo o que eles passam aqui. Palavra por palavra, sou capaz até de corrigir qualquer um que ouse dar algum palpite sobre a matéria. É tão cansativo ter que levantar cedo todos os dias para ter que olhar para as mesmas caras mal lavadas, para as mesmas falsidades, pros mesmos sorrisos meigos, pros mesmos apelidos que insistem em me dar.

Eu nunca fui normal. Meus pais me odeiam por isso. Gravidez indesejada, vim ao mundo para perturbar. Eu tenho apenas dez anos e uma mente diabólica. Minha sala tem trinta e três alunos e eu posso fazer para cada um uma morte lenta e dolorosa, sofrida, sangrenta. Dizem que eu tenho distúrbios. Os problemáticos são eles que colocam uma máscara para sair de casa.

Na escola existem três tipos de pessoas: os burros que usam exercícios físicos para esconder a burrice, os inteligentes que no fundo criticam todos e eu. Apenas eu. Não há alguém para me acompanhar nessa jornada além dele. Às vezes fico pensando se eu vou morrer apenas com ele e só de ter esse pensamento já começo a gostar da idéia. Não nasci para conviver com humanos e já com pouca idade tenho ciência disso.
Ando sozinha no meu canto, faço desenhos ao lado das folhas e tenho a minha própria comida, comprada em uma padaria qualquer. Odeio depender dos meus pais e só recorro a eles para pedir algo para a escola, o que eu também acho um saco. Minha aparência não é o meu forte e as pessoas costumam me dar apelidos relacionados à feiura ou à minha cara de rabugenta. Mas ao menos sou eu quem os intimida com o olhar. Acho que é por isso que ninguém ousa ficar na minha frente.

Minto, finjo, forço, engano. Tudo para sobreviver, para não ter que lidar com questionamentos. Nos quais eu também sou boa: consigo fugir de perguntas inadequadas com uma facilidade incrível. Eu sou especial. Não aquele especial que você olha e acha fofo, único. Quem olha para mim vê uma garota anti-social e entediante. Mas eu sou mais que isso. E ele sabe. Ele me ensina. Ele me ampara e reconhece o que eu sou.

Não vou dizer como o conheci, isso não importa. Só sei que por meio de subliminaridades ele se comunica comigo e me instrui. Ele disse que eu estou certa de ser assim e eu também não me incomodo nem um pouco de desejar a morte alheia. Ele é quente e me motiva a continuar nesse mundo. Ele disse que um dia eu terei a oportunidade de vê-lo. Anseio por esse dia mais que qualquer coisa. Uma vez ele disse que eu sou o orgulho dele. Meu tão querido papai.

14 comentários:

  1. muuito bom mesmo, a cada leitura me impressiono mais.

    ResponderExcluir
  2. Meu Deus. Muito perfeito este texto. Parabéns mesmo.

    ResponderExcluir
  3. Aff Brenda vc tá me assustando !! (Risos)
    Parabéns ! Outro mergulho num lago de pura inspiração, para retornar com um texto cheio de vida e de intensa compenetração na personagem.
    Guria, continuo dizendo : Não pára !!

    ResponderExcluir
  4. "Nesta escuridão há raízes amargas e insetos que nunca vi; mas o verbo, que me infundiste, estremece a montanha em que sepultaram meus ossos."
    Ultimamente venho tomando a liberdade de associar alguns textos à obra de Jorge de Lima. Neste caso, depois de ler o seu texto, lembrei imediatamente de "Mira-Celi e o Herói". Recomendo que leia essa parte na íntegra, pois ele consegue expressar boa parte do que senti ao ler o seu texto. Parabéns.

    ResponderExcluir
  5. Simplesmente amo cada um dos seus textos. Tua mente é brilhante.

    ResponderExcluir
  6. Está muito bom, original com personalidade, parabéns.

    ResponderExcluir
  7. Para de contar as minhas biografias Brenda!

    ResponderExcluir
  8. não sei a minha mãe, mas eu adorei KKKK

    ResponderExcluir
  9. Acho os seus textos simplesmente brilhantes. Não sei mais o que dizer, fico sem palavras.

    ResponderExcluir
  10. Tu tem um baita talento, NUNCA para!

    ResponderExcluir
  11. Li mais de 9 vezes. Olha, Brendin, cê tá de parabéns.

    ResponderExcluir
  12. Identifiquei-me muito com esse texto, sou q nem vc, anti- social e intimida os outros com o olhar.
    Parece q vc lê mentes, acho q uma delas e a minha.
    Adoro o seu modo de ser e escrever

    ResponderExcluir