terça-feira, 4 de janeiro de 2011
O barulho da droga pingando no chão.
Eu sinto um forte martelar em minha mente e posso ouvir a cada segundo o barulho do tic-tac do relógio aumentar. É como se tudo rodasse ao meu redor e a única coisa que eu precisasse fosse os meus remedinhos. Olhei pra onde eu estava, senti o cheiro forte da bebida e logo em frente, na mesa, uma xícara de café apenas com a borra ao fundo. Ele passou por aqui.
Eu me sinto machucada em algum lugar, só não sei dizer onde. Debrucei-me na mesa e pude perceber que haviam algumas gotas de sangue. Eu me machuquei, novamente. Não é como se eu pudesse me controlar, como se eu pudesse evitar isso. Eu apenas tento causar a dor física para tentar sanar a dor interna. E todas as vezes que ele vem aqui, faz o mesmo: joga o passado em minha face, diz o quanto eu acabei com a vida dele, me toma nos seus braços como se tivesse esquecido o que disse e depois vai embora. Deixando-me sozinha, com as minhas únicas companhias. As drogas.
É compulsivo. Cheiro uma, injeto outra. De uma vez, sem dó. Tento me levantar nesse momento e parece que o mundo está sobre minhas costas. A geladeira é logo ali e provavelmente há algo que possa me fazer ficar melhor. Vou até ela, tento abri-la e lá eu vejo uma garrafa de Jack Daniel’s que tanto me faz bem. Pego-a, abro-a e volto pra mesa agora com o maço de cigarros na mão. Abro, pego um, acendo o isqueiro e dou uma tragada. Forte, profunda e intensa. Assim como a minha dor mental.
Dou alguns goles, penso no quão inútil minha vida é. Uma escritora qualquer que ganha uma merda, vive sedentariamente e tem uma vida emocional mal resolvida. E fuma algumas drogas. Esse hábito eu peguei com ele. E é estranha essa minha necessidade por ele. Essa dor causada por não tê-lo aos meus braços. Essa dor por ter tirado-o da sua vida normal e bagunçado tudo o que havia de concreto pra ele.
Minha alegria costumava estar junta as coisas que ele dizia e as drogas que nós fumávamos. Tudo com ele era mais intenso e divertido. Fazíamos sexo enquanto ouvíamos nossas músicas preferidas e, às vezes, enlouquecíamos e quebrávamos tudo. Não que isso seja uma vida saudável, mas era a nossa vida. A minha vida com ele. Nós nunca nos permitíamos ficar tristes. Éramos o refúgio um do outro, um escape contra o mundo. Se nós estivéssemos a sós em uma casa, fazíamos dela o nosso paraíso. A nossa bolha que nos separava de todo mundo.
Perco-me em milhares de devaneios e lá vou eu tentar levantar novamente. Apoio-me na mesa, sinto milhares de corpos sobre o meu e vou pro meu quarto que é logo ali. Atiro-me na cama, sinto o cheiro dele e assim eu durmo, como faço todas as noites que ele vem – ou não – aqui: dopada, sangrando, imunda, inconseqüente, doendo e infimamente apaixonada por ele. Do jeito que eu não deveria estar.
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Nossa você escreve mt bem mesmo *-*
ResponderExcluirNossa profundo, adorei.
ResponderExcluirTão real, tão convincente, tão intenso.
ResponderExcluirSó você mesmo, minha Brê.
Engrenou de vez ! Manda mais Brenda ! Não pára não, continua; no teu ritmo, mas continua.
ResponderExcluiradorei, lindo texto, como sempre.
ResponderExcluirIncrivel, como todos os outros
ResponderExcluirVou soar repetitiva se continuar elogiando seus textos. (Os interessados em minha opinião que leiam os outros textos, os outros comentários). Você já entendeu o que penso da sua forma de escrever, Brenda. Mais uma vez, parabéns.
ResponderExcluirOlha, quando eu penso que você já está no seu limite de palavras, vem você e me surpreende Brends. Parabéns.
ResponderExcluirShit, me vicia.
ResponderExcluircara, amei.
ResponderExcluiré real e fantasioso ao mesmo tempo.
segui linda.
Você é genial, sem mais.
ResponderExcluirnossa seus textos sempre ótimos não me canso de lê-los
ResponderExcluirMuito bom o texto.
ResponderExcluirAmei de verdade, parabéns.
Me lembrou em muitas partes o livro Hell - Paris 75016. Já leu?! E o texto está muito bem escrito, como sempre.
ResponderExcluirGenial. Você escreve de uma maneira que prende a atenção, intensa e criativa. Pude ver cada cena acontecendo.
ResponderExcluirMuito bom.
http://insoniarepentina.blogspot.com/