quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Tourniquet.


Ele era um porra louca. Daqueles de dizer o que pensa na cara de quem deve. Daqueles de viajar o mundo todo em busca da felicidade, que parecia mudar de estado e país a cada dia, levando-o consigo. E eu gostava disso nele. O modo como ele tratava as pessoas, o modo como ele sorria, o modo como ele fazia das músicas a sua vida. Procurava viver cada instante intensamente.

O nosso momento foi um desses. O conheci num bar e provavelmente irei esquecê-lo em um. Libertou-me da minha rotina pacata e sem brilho e deu à minha vida um novo tom de azul-claro que só seus olhos possuíam. Fez-me um convite inesperado de viajar por vários lugares, conhecer novas pessoas. Ele me encantou tão imensamente que ao me perguntar isso aflorou um dos meus maiores medos: o de ser abandonada. Sabe como é, quando não se tem mais mãe, pai e nem um outro parente a quem recorrer você se sente assim, abandonada. Vivendo por si mesma como se fosse autossuficiente. E nessa minha queda à repressão ele me resgatou e me mostrou como o sol pode brilhar em certos momentos.

Fui com ele. Era uma experiência nova. A cada dia que se passava eu via um novo homem. Talvez eu dormisse com vários homens em uma semana num mesmo corpo. Ele era excêntrico e sabia como me satisfazer. Em todos os sentidos. Financeiro, emocional, sexual. Dizer que ele era perfeito seria exagero. Ele era irritantemente diferente. Opiniões e conceitos que me estressavam, mas que me faziam ver vários outros lados – bons ou ruins – de certos temas.

Viajávamos, conhecíamos pessoas novas. “Você é o que dele?” Ficava sem responder. Ele nunca deixou claro o que eu era dele. Não sentíamos essa necessidade de nos afirmar namorados ou coisa assim. Nós apenas demonstrávamos o que sentíamos em gestos. Maravilhosos gestos. “Vocês pretendem se casar?” Disso eu tinha certeza que não. Formávamos um par perfeito, mas a eternidade só pertencia ao tempo. Casamento é um contrato sério demais para duas pessoas que não querem saber do futuro.

“Mas... vocês pretendem se amar para ‘sempre’, como todo casal quer?” E era nessa pergunta que sempre me pegavam. Eu não sabia o que responder. Ele conseguia mudar de personalidade tão rapidamente que me assustava, me alegrava e ao mesmo tempo provocava-me o medo de ser abandonada por uma pessoa que me completava tanto.

E no fim foi isso que aconteceu. Era o que tinha que ser. Repasso todos os nossos momentos em minha mente como se fosse real, como se eu pudesse tocar o seu rosto e sentir aquela barba mal-feita me incomodando. A paz que ele emanava era para poucos. Talvez eu pertencesse mesmo à repressão. E ele à excentricidade. E se cumpriu o que eu costumava dizer sempre: “Você é demais para esse mundo todo.” Ele tinha algo especial. E Deus – ou morte, ou qualquer outra coisa que você queira chamar – o levou do mundo.

E de mim.

14 comentários:

  1. Se eu falar "caralho" de novo, fica muito repetitivo? Porque a única coisa que me vem à boca quando eu te leio é isso, é espanto, mas ao mesmo tempo, admiração. Putz, tu escreve muito bem. Melhor, me descreve muito bem. Não me leva a mal, mas me vejo nos teus textos, tu é exatamente tudo o que eu gostaria de escrever. Não é exagero dizer que teu blog é um dos meus favoritos, mesmo tendo só duas postagens. Cara... Eu não gosto de comentar em um blog só coisas fofas tipo "nossa, como você escreve bem", "nossa, que belo texto" e bibibi, mas não tem mais o que te falar, Brenda.
    Teu blog é FODA.

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  2. Amei teu blog. tu escreve muito bem. tem futuro!

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  3. Uma pessoa como eu só fica sem palavras diante de uma perfeição como essa! Como eu te disse, isso ai sou eu desde uns três meses atrás, poxa! Você é FODA minha nega, eu te admiro tanto e te amo tanto, enfim.. não para de escrever nunca.

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  4. Lendo teu texto lembrei de um filme: An Education. Filme retrata a vida tediosa de uma garota que muda ao conhecer um homem interessante e que a faz rever vários conceitos. Se ainda não viu o filme, é uma bela dica. Gostei do Blog.

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  5. Você, admiradora dos meus pequenos textos. Eu, admiradora dos seus belos contos. =)

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  6. Hey, Brenda... Conheci seu blog através de uma amiga. "Meus parabéns..." muitos devem dizer isso à você.

    Se tiver email, me mande uma mensagem. Gostaria de conversar com você sobre outros supostos textos.

    Até mais !

    leandro_linear@hotmail.com

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  7. Adorei o que tu escreveu.
    Tu escreve de um modo diferente, mas acho que toca igual em todas as pessoas que lêem. Por esse ultimo post, eu vi que se tu escrevesse um livro, com certeza eu iria ler.
    Já deve ser comum tu ver as pessoas dizendo isso, mas eu te admiro. Tu é uma das poucas pessoas que eu admiro. Parabéns pelo blog.

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  8. Se você escrevesse um livro, eu o compraria com a certeza de que seria um bom investimento.

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  9. Você realmente tem talento pra escrita. Esse texto, assim como os outros que escreveste, está incrível, maravilhoso. Parabéns.

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  10. Por favor, não pare de escrever. Seus textos são maravilhosos e você tem muito talento que não deve ser desperdiçado. Admiro muito a forma como você escreve e se expressa, são raras as pessoas que conseguem ser assim.

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  11. Eu ainda me pergunto. Pq vc é tão foda?

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  12. Lindo, lindo, lindo e.. lindo. Haha. Sério, adorei esse texto, é encantador. Você encaixa as palavras de um jeito surpreendente. É sensível, bem conduzido... Excelente.


    http://insoniarepentina.blogspot.com/

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